Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
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sábado, 16 de abril de 2011

Cartazes Night and City (Sombras do Mal - 1950)

Night and City, mais uma brilhante direção de Jules Dassin, é o nosso próximo tema, ainda que filmado na Inglaterra. Deixo o gostinho dos cartazes do filme que percorreram o mundo e em seguida postarei mai informações. Aguardem...









Cartazes - Metropolis - 1927

E como não poderia faltar, seguem os cartazes de Metropolis.
Reparem no desenho da letra e as formas geométricas e angulosas nos 2 últimos cartazes. Lembra-me em especial as formas do cenário de Dr. Caligari e nos remete ainda ao clima frio e metálico das máquinas. O segundo e o terceiro lembram-me os Titãs, erguendo a cidade e a máquina, na figura representada pela robô. O primeiro cartaz mais nos padrões modernos de diagramação e arte nos mostra a criação da mulher máquina.

Creio que o importante é notar a síntese de detalhes do filme nessas artes, que juntas, refletem o conteúdo básico do filme.






Metropolis (Fritz Lang - 1927)

Metropolis (1927)
153 min - Sci-Fi - (USA)
Fritz Lang

http://www.imdb.com/title/tt0017136/


Hoje, após alguns dias distante devido a um problema ainda não descoberto entre meu computador e o blog, testei vias diferentes da entrada normal pelo endereço original e cá estou para escrever sobre mais uma obra-prima, ou melhor, a grande obra a meu ver, do expressionismo alemão.

Estamos falando nada menos que Metropolis, mais uma vez de nosso já conhecido e citado Fritz Lang. Metropolis seria uma das 6 grandes obras de sua fase expressionista, considerados grandes expoentes do estilo.

Metropolis, século XXI. No Jardim dos Prazeres vivem os filhos dos abastados, desfrutando do melhor, distante da realidade externa que sustenta tal utopia, onde operários vivem em regime de escravidão, trabalhando abaixo da superfície, na Cidade dos Operários.



Freder, filho do fundador de Metropolis, ainda desfrutando do Jardim dos Prazeres, sente-se confuso após conhecer Maria, uma espécie de líder espiritual dos operários, que cuida dos filhos dos escravos e prega a não violência diante dos maus tratos. Nesse momento, Freder percebe que há algo além da realidade que lhe é apresentada e vai constatar por si mesmo a dura realidade, ficando horrorizado com a condição dos trabalhadores que por horas a fio mantém as máquinas em constante movimento, para manter a cidade em pleno funcionamento.


Essa passagem fez-me lembrar da versão romanceada mas com alguns detalhes interessantes do filme sobre o Buda (um filme em que Keanu Reaves protagoniza o personagem), que era um príncipe vivendo numa espécie de Eden construído pelo pai a fim de que este desfrutasse de todos os prazeres sem deparar-se com a realidade, e só quando este resolve fugir do palácio e enxergar de perto como vive o seu povo é que tornar-se-á um homem consciente da realidade da vida, tomando um rumo definido por sua escolha.

Em paralelo, para resolver a questão do cansaço humano que dificulta o funcionamento constante da máquina urbana, um “cientista” cria um robô supostamente infalível para substituir o contingente operário, e fica decidido que sua aparência será a de Maria pela influência que esta tem sobre seus trabalhadores.


Notem o arquétipo de Maria. Maria, que prega que um Salvador virá para salvar os pobres escravos. O nome da mãe do Salvador cristão, com toda benevolência e misericórdia pelos menos favorecidos. Mas a mulher neste filme se apresenta em diversas faces, como veremos a seguir.

O robô é uma mulher sedutora entre a burguesia e surge entre os trabalhadores para gerar a discórdia, com um discurso que incita a vingança e a violência, enquanto Maria é mantida aprisionada pelo cientista.



Vemos então a mulher bondosa, uma espécie de "femme fatale" traiçoeira e malígna - retrato que mais tarde representará a mulher no Noir mas aqui revela ainda o sentido nocivo da máquina preparada em mãos ambiciosas como a do cientista que promove algo para destruir o humano, substituindo-o.

Metropolis demonstra uma preocupação crítica com a mecanização industrial urbana, questionando a importância do sentimento humano, perdido no processo. Como pano de fundo, a valorização da tecnologia e a arquitetura. A cena inicial da troca de turno dos operários, onde estes entram juntos de cabeça baixa, e em um plano geral vê-se as grandes colunas e paredes muito amplas, estas parecem dominá-los e consumí-los. O movimento das engrenagens filmadas em closes fechados, intensificam a velocidade e a força que a máquina representa.





O final remete à conclusão de que "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!"  e se concretiza no simbólico aperto de mão mediado por Freder entre Grot (líder dos trabalhadores) e Jon Fredersen - o empresário.

Metrópolis impressiona e angustia desde as cenas iniciais, onde os operários alinham-se em fila para a troca do turno. São autômatos, sem vida ou identidade própria, com suas vestes idênticas e a desesperança expressa em suas faces. É um mundo vazio, encoberto pela falta de ar e luz natural e envolvido pela fumaça das máquinas.


Predominam as cenas de forte expressão visual - característica do expressionismo - como a panorâmica da cidade com os seus veículos voadores e passagens suspensas. Alusões bíblicas, mistério, ação e romance, completam o leque que envolve o público e o mantém em suspense até ao final.

A fotografia é densa e dramática, intensificada pelo alto contraste, junto a trilha sonora que colabora para envolver o espectador no drama dos personagens.

Relutei muito antes de escrever sobre este filme, que considero o maior clássico do expressionismo que tive o prazer de conhecer. A obra é de uma força e fala por si, e qualquer palavra não a descreve em todo o seu merecimento.

Recomendo que assistam ao filme e vejam mais um clássico que o mestre Fritz Lang nos deixou, tema muito atual para refletir sobre a sociedade em que vivemos e os rumos que seguimos sem descanso.

No YouTube pode-se encontrar o filme na íntegra, ainda que dividido em partes, disponível para assistir no site.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cartazes - The Lost Weekend (1945)





Farrapo Humano (The Lost Weekend - 1945)


The Lost Weekend
101 min - USA
Drama
Billy Wilder

http://www.imdb.com/title/tt0037884/



Mais uma vez, Billy Wilder dirige de forma brilhante uma história que retrata a degradação humana, movida pelo alcoolismo. Ao que parece, as ambiguidades, as fraquezas de caráter e morais tornam-se temas de grande interesse para o grande diretor de obras como Sunset Boulevard e Double Indemnity, temas que retrata em detalhes e grande realismo.

Na cidade de Nova York, Don Birman, um homem que tem por objetivo tornar-se escritor mas, não obtendo êxito, entrega-se ao álcool ainda que a namorada e seu irmão tentem por todos os meios recuperá-lo e trazer-lhe de volta a confiança de regenerar-se.

Birman deixa-se dominar completamente pelo álcool e passa a ter, como única meta, obter dinheiro para continuar se embriagando, esquecendo das pessoas que o rodeiam e que sofrem por vê-lo neste estado.


O nome The Lost Weekend, ou Fim de semana perdido, se deve à tentativa do irmão em levá-lo para o campo a fim de ficar distante do álcool e recuperar-se, mas Birman engana a todos e não parte, embebedando-se sem parar por todo o período, chegando a ser internado e sofrer alucinações.






É brilhante a interpretação de Ray Millan, cheio de expressões que demonstram seu conflito interno por considerar-se um fracassado vivendo às custas do irmão e não digno da bela Helen, além da condição em farrapos que o personagem vai adquirindo quanto mais se entrega ao vício, revelando uma quase demência até ao ponto de quase não haver mais controle de si.

A cena em que tem alucinações com pequenos animais, tal como lhe conta o enfermeiro quando de sua internação em um hospital para alcoólatras é impressionante, e graças a tal interpretação nosso protagonista recebeu merecidamente o Oscar de melhor ator pelo papel.




Buscando características do Noir em The Lost Weekend, podemos citar o flashback de Birman no bar, quando conta para o Barman toda sua história de alcóolatra e quando conheceu sua namorada.

Birman seria ainda o arquétipo do perseguido, pois considera ter dupla personalidade, em um conflito constante entre o escritor e o alcoólatra.

O clima pessimista e fatalista permanece por todo o filme, mas desta vez, contrariando os finais sem esperanças do cinema Noir, em Farrapo Humano parece que uma porta abre-se quando, após grande insistência da namorada que percebe a intenção de Birman em suicidar-se antes que o irmão retorne do campo, e após a visita do Barman que recupera a máquina de escrever com que ele tenta ser um escritor, este parece recobrar a confiança a fim de escrever sua história como alcoólatra.

Segundo informações na Wikipedia, parece que o filme causou preocupação aos negociantes de bebidas pois, segundo relatou Billy Wilder, as indústrias de bebidas alcoólicas estadunidenses ofereceram cinco milhões de dólares para que a Paramount não realizasse o filme.

De forma brilhante, Billy Wilder conseguiu uma vez mais retratar com realismo a fraqueza humana em todos os detalhes, trazendo a tona mais um problema social encoberto por interesses capitalistas.

domingo, 10 de abril de 2011

Kracauer - reflexões sobre o cinema e a sociedade

Título:O Ornamento da Massa
Autor:Siegfried Kracauer
Tradução:Carlos Eduardo J. Machado; Marlene Holzhausen
384 páginas
Editora Cosac Naify


"Os filmes são o espelho da sociedade..." (As pequenas balconistas vão ao cinema - pág. 311).

"Destaca-se, na produção de Kracauer, a atenção que ele dedicava à cultura de massas no momento em que ela surgia, assunto que diz respeito aos interessados em arte, comunicação, sociologia, arquitetura." (http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10138/O-ornamento-da-massa.aspx).

Mais uma recomendação de leitura sobre cinema do já mencionado Siegfried Kracauer, para os interessados em artes em geral com uma análise sobre o efeito da cultura de massa na sociedade, analisada e comentada por Kracauer de uma maneira muito distinta, em especial no que se refere ao cinema, a partir do capítulo intitulado "As pequenas balconistas vão ao cinema".

Como que criando uma cena de filme que supostamente as balconistas estariam assistindo, toma como exemplo para a conclusão quanto ao comportamento da sociedade, desenrolando os temas como a questão da ilusão e o escapismo da realidade por meio do cinema, a visão dos relacionamentos, chegando a uma análise de "estabilização ou cristalização" dos filmes e seu público, não mais apresentando surpresas.

"...é realmente a sociedade que se manifesta nos filmes sensacionalistas de sucesso. Essas reabilitações comoventes, essa generosidade impossível, esses jovens polidos e almofadinhas,...eles realmente existem? Sim, eles realmente existem...Não existe nenhum kitsch que se invente, que a própria vida não supere."

A cultura de massa seria então o material de estudo de Kracauer utiliza para relacionar com o comportamento vigente na sociedade, pois enxerga que os temas utilizados com frequência revelam a forma como esta quer ser vista.

Eu diria que em O Ornamento da Massa, Kracauer traça uma visão bem pessimista sobre o cinema, com uma crítica dura, citando determinados temas de filmes, como por exemplo os históricos que apresentam-se em sua maioria romanceados, como que anulando questões importantes que deveriam ser melhor abordadas.

Kracauer é um pensador que vê o realismo melhor que a ficção como forma de “educar” a sociedade e discutir as verdades humanas, e vê na abordagem cinematográfica fantasiosa um “mecanismo da sociedade” para refletir sua realidade, como nos mostra uma passagem em outra publicação, que cito a seguir:

“(...) Ninguém negará que, na maior parte dos filmes atuais, tudo é um tanto irrealista... Porém, não é por isso que eles deixam de refletir a sociedade. Ao contrário, quanto mais incorreta é a forma que eles mostram a superfície das coisas, mais corretos eles se tornam e mais claramente eles espelham o mecanismo secreto da sociedade ... As fantasias estúpidas e

 
irreais do cinema são devaneios da sociedade, principalmente porque os colocam em primeiro plano como de fato o são e porque, assim, dão forma a desejos que, noutras ocasiões, são reprimidos.“ (KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler. Rio de Janeiro: Zahar, 1987).


Sendo considerado o "mercado das emoções baratas" por Nicolau Sevchenko e visto como uma forma de escapismo da realidade que vai perdendo o elemento surpresa ao longo do tempo, o cinema continua sendo um interessante objeto de estudo sobre seus efeitos sobre a sociedade e o fenômeno de mesmo nos dias de hoje prosseguir atraindo multidões.